terça-feira, 11 de junho de 2013

Homem de Aço

A jornada do super-herói: por que tão sério?
 
Por Ana Maria Bahiana
Do site UOL
 
Aviso prévio: e você entra em choque alérgico com SPOILERS, não leia.

É muito difícil fazer filme de super-herói. Para começar eles são super, existindo numa espécie de hiperrealidade na qual várias gerações depositaram suas aspirações, desejos, frustrações, ambições. Para piorar, suas biografias e perfis são constantemente re-escritos, na medida em que as décadas rolam, e a sociedade, os leitores e leitoras, os desejos e frustrações mudam. E para tornar tudo ainda mais complicado, muitos de nós, leitoras e leitores , colocamos neles – nos super-heróis e suas mutáveis biografias – o tipo de religiosidade e fé que, em outras arenas, são reservadas a textos sagrados.

Super-Homem é um super-herói ainda mais difícil. Ele não é humano, pra começar. E, com uma única exceção, é invencível. Pergunte a qualquer pessoa que escreve em qualquer meio o que é ter um herói sem fraquezas. Não é brincadeira não.  Até mesmo os gregos da era clássica, pioneiros na concepção do super-herói, deram um calcanhar para Aquiles e um veneno poderoso para Hércules. Porque o poder ser derrotado é o que mais nos aproxima da vontade de gostar profundamente dos nossos super-heróis, e achar algo de nosso neles.

Num filme as coisas se complicam tremendamente, porque tem-se duas horas e trocados para tecer uma trama que prenda, encante e, de preferência, extasie a plateia. Através de sucessivos ciclos de filmes de super-heróis, dois caminhos se consagraram como soluções para o dilema de como atacar um gênero ao mesmo tempo tão difícil e tão popular:

a)    Levar na brincadeira. A coisa toda é absurda demais para ser atacada como um drama. Esses caras de malha e capa não podem estar se levando a sério. Quando funciona, temos Os Vingadores, de Joss Whedon.

b)   Levar  totalmente a sério. Estamos de volta aos princípios da mitologia primordial, egípcia, babilônica, grega, e esses heróis são nossos Horus, Gilgamesh, Ulisses. Quando dá certo temos a trilogia Batman de Christopher Nolan (especialmente O Cavaleiro das Trevas, onde o já imortal Coringa de Heath Ledger comenta exatamente a solenidade de Nolan: “Mas por que tão sério?”

Com tudo isso na cabeça, mais a alegria de apreciadora de um bom de filme de aventura, com ou sem super-herói, fui ver Homem de Aço  (Man of Steel, Zack Snyder, 2013) querendo gostar , e gostar muito. Sabendo que ali estavam dois realizadores com uma queda para levar as coisas muuuuito a sério – Nolan, produtor, e Zack Snyder, diretor – eu esperava um bom mergulho em toda a complexidade do mito Super-Homem, o alienígena que é a superação de todas as falhas humanas, o sobrevivente do holocausto planetário, o repositório das esperanças da humanidade desde a Grande
Depressão dos anos 1930.
 
Homem de Aço começa como o Super-Homem de 1978, de Richard Donner: em Krypton, sob a sombra dupla de um golpe de estado e da iminente destruição do planeta. A solução de Donner para Krypton, considerando os recursos da época, era simples mas elegante. Snyder partiu para o extremo oposto, com muito tudo, inclusive um estranho sotaque pseudo britânico para Russell Crowe como Jor-El. O Zod de Michael Shannon fala como americano mas tem um corte de cabelo idêntico ao de Joaquin Phoenix como o Imperador Commodus, o que me fez pensar, por um segundo, que eu estava vendo Gladiador.

Zod é uma boa escolha como nêmesis de Kal-El/Clark Kent, especialmente para o primeiro filme do que pode vir a ser um ciclo: Zod é  um igual, um conterrâneo do herói. David Goyer, que escreveu Cavaleiro das Trevas Ressurge com Nolan, está basicamente reciclando a premissa do filme de Nolan, e usando alguns bons estratagemas para tornar o relacionamento Zod-Kal-El- Jor-El tão complexo quanto pode ser num filme deste tamanho.

Mas nem isso, nem a discrepância de sotaques, nem o cabelinho de Zod/Shannon, nem mesmo as bizarras criaturas que povoam Kripton conseguiram esmorecer minha vontade de gostar de Homem de Aço. Nem mesmo quando a Fortaleza da Solidão passa a ser um dos lugares mais movimentados acima do cículo Ártico, ou quando somos apresentados a Clark Kent no que parece alguma cena perdida da série The Deadliest Catch, do Discover , eu me desiludi. Afinal, a destruição de Kripton tinha sido espetacular, e o novo visual do Superhomem, sem sunga vermelha e sem cachinho na testa, era bem bacana.

Ainda haveria mais um belo momento – o vôo inaugural do Super-Homem, sempre um momento-chave de todos os seus filmes, é especialmente emocionante aqui, graças à evolução dos efeitos digitais, que agora permitem, sem restrições de credibilidade, que Kal-El toque as estrelas.

A alegria, no entanto, durou pouco. Muito rapidamente Homem de Aço se transforma numa sucessão sem trégua de destruições mega-barulhentas e intermináveis. Primeiro Smallville, depois Metropolis  vêm abaixo, sempre com as marcas do merchandising em primeiro plano. A demolição é pontuada por diálogos que um estudante de roteiro do primeiro ano ficaria encabulado de escrever e tudo é levado muito, muito, muito a sério.

Parece que todos estão participando de uma tragédia grega com figurinos de um show da Lady Gaga, mas isso não é o pior: o pior é que não  há nenhum real drama humano, o gancho que nos prende, o mistério que nos encanta, a representação de um perigo real ameaçando personagens que aprendemos a gostar.

O episódio Rains of Castamere, de Game of Thrones, nos reduziu às lágrimas com flechadas e espadas. Homem de Aço destroi cidades inteiras sem envolver a plateia. Pelas minhas contas, segundo o filme, Metropolis tem cerca de 24 habitantes apenas. E nenhum deles corre sério risco de coisa alguma, nem mesmo com o desabamento de todos os arranha-céus da vizinhança.

Em dado momento eu me vi perguntando, silenciosamente: nossa, isso é filme de Michael Bay?
Fiquei triste. Imaginei quantos executivos deram palpite, pediram “mais ação!”, “mais efeitos!” Imaginei o que teria acontecido para que tantos bons atores – Michael Shannon, por exemplo – estejam tão mal aproveitados.

Acho que vai ser um sucesso. A coisa mais brilhante de Homem de Aço é sua campanha de marketing, e essa, somada aos nomes de Nolan, Snyder e do Super-Homem vai garantir uma bilheteria séria. Não sei se será o bilhão que a Warner está esperando, e que poderia garantir a franquia, sem dúvida.

Espero que venha aí mais um. Ou dois. E que os realizadores, sejam eles quem forem, possam nos oferecer tudo o que o mito sugere e promete. Mas até lá…

Homem de Aço estreia dia 14 de junho nos Estados Unidos e dia 12 de julho no Brasil.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

'Se Beber, Naõ Case!' encerra exaltando o seu melhor: o Alan


'Se Beber, Naõ Case! Parte III' é o melhor da trilogia.
No Brasil, filme está perto dos 2 milhões de telespectadores.
 
O final épico da trilogia de comédia de maior sucesso dos últimos tempos. O "bando de lobos" se despede do público com um bom filme, o melhor da trilogia.

Em 2009, estreiou o filme. O sucesso de bilheteria fez com que dois anos depois tivesse uma segunda parte. E, em 2013, o fim.

O primeiro filme foi muito bom, talvez justamente por isso, por ser o primeiro, novo. O segundo já não deixou essa sensação. Foi um pouco repetitivo em relação ao primeiro. Então, a missão de encerrar bem, o que começou bem, foi cumprida.

O último filme da saga exalta o seu melhor: o Alan (Zach Galifianakis). O personagem de Zach é o melhor, mais engraçado e causador de todas as confusões. Na maior parte do filme, as partes mais engraçadas sai dele.

O pessoal da Warner deve ter se arrependido de, em 2009, ter tratuzido o 'The Hangover' ('A Ressaca', em tradução livre), nome original em inglês do filme, para 'Se Bebe, Não Case!'. Nos dois primeiros filmes, o título em português até faz sentido, mas no terceiro não há casamento, só no final.

Com bom elenco, o filme é sensacional. Bradley Cooper gravou esse filme antes do bom 'O lado bom da vida', que lhe rendeu indicação ao Oscar. Tem também o bom humorista do 'Saturday Night Live', Ed Helms, seu personagem, Stu, é o mais sente na pele com as "brincadeiras" do Alan. E Ken Jeong, como Chow.

O longa tem um bom roteiro, uma boa produção e uma boa direção. Ponto para Todd Phillips, o diretor, produtor e escritor do filme.

Como o filme marca o fim da trilogia, tem partes que a "emoção" em cena fala mais alto. O que pode deixar, as poucas partes que tem isso, um pouco chato, mas nada que atrapalhe o bom andamento do filme.

Já no fim, Todd Phillips faz uma referência ao Beatles (referência a capa do 12º álbum da banda inglesa, Abbey Road).


 Assim como os Beatles, 'Se Beber, Não Case!' estabeleceu um limite alto aos seus concorrentes.

(OBS.: Tem partes do filme que entenderá só quem assistiu os dois primeiros.)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Robert Downey Jr. salva o (fraco) Homem de Ferro (3)


Cercado de expectativas, estreou o Homem de Ferro 3, o primeiro filme da Marvel pós Os Vingadores. Talvez a grande expectativa tenha prejudicado um pouco o filme.
Pois bem, conheço por alto a história, os HQs, de um dos primeiros super-heróis da Marvel, então eu vou só falar do filme em si e, não, do herói. Sem spoilers.
O terceiro filme da saga foca mais o drama de Tony Stark (Robert Downey Jr.), depois de ter derrotado uma minhoca alienígena em ‘Os Vingadores’. O trauma dessa batalha é exposta com as crises de ansiedades vividas pelo milionário. Isso faz com que Tony seja mais “homem” do que “ferro”. Isso foi bom, pois Robert Downey Jr. fez uma atuação muito boa nessa nova fase do herói (assim como ele fez nos últimos dois filmes). Mas esse “drama” vivido por Stark prejudicou o decorrer do longa.

O filme foi clichê: “Um homem procura oportunidade, mas não encontra, é humilhado pelo personagem principal e zombado por todos. Isso faz com que ele tente destruir o que o humilhou e todos a sua volta. Em um plano ‘diabólico’ contra a América”. Quantos filmes já não vimos assim? Quantos filmes de super-heróis da Marvel não são assim?

Alguns momentos do filme são sonolentos e cansativos. A roteiro/estória do filme (como citado acima) é algo que não agrada. Homens que cospem fogo pela boca? É ‘Homem de Ferro’ ou um mutante dos ‘X-men’? Poderiam ter pensado coisas melhores (como poderiam ter pensado em algo melhor do que uma minhoca alienígena, em ‘Os Vingadores’). Mas esses “homens que cospem fogo” foi usado de uma maneira inteligente: foram colocados como uma guerra política entre os EUA e o Oriente, pois esses homens fogo se transformavam em homens bomba. Isso foi um fator positivo apesar dos pesares.

O que salva o filme é a atuação de Robert Downey Jr. na pele do herói. O humor sarcástico característico de Tony Stark combinou perfeitamente com o ator. Até mesmo a história Tony é parecida com a vida real de Robert, ambos tiveram problemas com o álcool. O Homem de Ferro, apesar de ter sido um dos primeiros personagens da Marvel, nunca foi um dos principais. A trilogia com Downey Jr., fez com que essa história mudasse. E, hoje, o Homem de Ferro é um dos principais produtos da casa. Isso foi notório em ‘Os Vingadores’. Apesar de ter “cedido“ o papel de líder para o (chato) Capitão América, foi o Homem de Ferro que derrotou o vilão (no caso, uma minhoca gigante alienígena). E foi de Downey o maior cachê do filme e o seu nome teve um destaque maior nos créditos.

Além das piadas e de Downey Jr., outro ponto positivo do filme é a boa participação de Don Cheadle, como o Patriota de Ferro, o ator que o ganhou o último Globo de Ouro de Melhor Ator em série de Comédia por ‘House of Lies’.
A produção do filme continua perfeita, as cenas de ação são algo a se admirar, mas o uso do 3D foi desnecessário.
O ‘Homem de Ferro’ continua sendo o melhor filme, de super-herói, da Marvel (não contando com ‘Os Vingadores’), mas fica a passos largos da última trilogia do ‘Batman’, da DC Comics/Warner.
Assim como o escritor, diretor e produtor, Christopher Nolan, salvou ‘O Cavaleiro das Trevas’, a atuação de Robert Downey Jr. salvou o ‘Homem de Ferro’.
A expectativa agora gira em torno do novo filme do Super-Homem, O Homem de Aço, produzido por Nolan, que estreia em julho.